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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Notas sobre a pandemia - E breves lições para o mundo pós-coronavírus
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-85-3593-370-3
Editora: Companhia das Letras;
Em meio à pandemia do novo coronavírus, houve quem colocasse na conta da globalização o espalhamento de um vírus minúsculo que pegou o mundo de surpresa. Para essas pessoas, a única solução seria “desglobalizar” os países com muros, restrição de viagens e redução do comércio.
Por mais que a quarentena temporária seja essencial para deter epidemias, o isolamento prolongado levaria o mundo ao colapso econômico. Pior: não ofereceria qualquer proteção contra doenças infecciosas.
O único caminho possível para superar este desafio, e todos os outros do século XXI, é a cooperação entre países. A segregação não traz resultados positivos e é uma forma ultrapassada de enxergar o mundo.
Muito antes da globalização, grandes epidemias também mataram milhões de doentes no planeta, sem que existisse a tecnologia da aviação ou dos cruzeiros para as pessoas cruzarem oceanos, levando vírus e bactérias para todos os cantos.
Vamos pensar na peste negra. No século XIV, ela se disseminou da Ásia Oriental à Europa Ocidental em pouco mais de uma década, matando entre 75 milhões e 200 milhões de pessoas, o equivalente a um quarto da população da Eurásia. E não havia globalização para ser culpada por tantas mortes.
No último século, cientistas, médicos e enfermeiros compartilharam informações e tecnologias capazes de dissecar o funcionamento do novo coronavírus em questão de meses. Se tivemos um problema real na condução da pandemia, foi a ausência de líderes com boa vontade para colocar a ciência à frente de interesses mesquinhos.
A tempestade do novo coronavírus passará. Mas as escolhas feitas neste momento podem mudar nossas vidas por muitos anos. Se hoje a humanidade enfrenta a maior crise global desta geração, as decisões tomadas pelas pessoas e por governos de todos os cantos do planeta vão moldar sistemas de saúde, economia, cultura e a sociedade como um todo.
Por isso, é necessário agir com convicção na contenção do vírus, levando em consideração as consequências a longo prazo dos atos de agora. Governantes não deveriam pensar apenas em maneiras de superar a ameaça imediata, mas também em como tudo isso irá impactar o mundo quando a tempestade tiver passado.
Algumas medidas urgentes de curto prazo se tornarão parte de nossas vidas, como o maior tempo de trabalho em casa e o uso de máscaras ao andarmos pelas ruas e outros ambientes públicos. Nos momentos de emergências, processos históricos acabam acelerados, tecnologias incipientes e perigosas são ativadas, já que sem elas os riscos são maiores.
Nesse mundo cada vez mais on-line, mudanças drásticas já nos rodeiam, mesmo sem que prestemos a devida atenção.
Em tempos normais, governos, empresas e autoridades educacionais jamais concordariam em conduzir experimentos como as aulas inteiramente remotas. Como não vivemos um período de normalidade, nos deparamos com uma escolha realmente muito difícil: implantar sistemas de aulas 100% on-line ou perder o ano letivo por completo.
Da mesma forma, questões de vigilância nos levam a crer que seremos cada vez mais monitorados. A linha tênue entre a vigilância totalitária e o empoderamento do cidadão está prestes a ser rompida. E o caminho equivocado do isolamento nacionalista será cada vez mais colocado em xeque, dando vez à solidariedade global.
Depois do coronavírus, o mundo seguirá se transformando permanentemente. A humanidade como a conhecíamos já não existe mais.
Será que a pandemia do coronavírus nos fará retornar a ter atitudes mais tradicionais e resignadas diante da morte? Ou iremos reforçar as tentativas humanas de prolongar a vida? Para Yuval Noah Harari, a segunda hipótese é um fato irreversível.
O mundo moderno foi moldado pela ciência. Basta pensar no quanto ela foi valorizada em meio à busca por uma vacina que estancasse a disseminação do novo coronavírus. Com o ápice da ciência na sociedade, veio junto a crença de uma capacidade de ludibriar e vencer a morte. A busca por mais descobertas para aumentar a expectativa de vida e diminuir a mortalidade por doenças graves foi uma revolução. Quando a religião dominava o planeta e os conhecimentos de mundo eram mais restritos e obscuros, a atitude diante da morte era de resignação.
Uma etapa natural que não poderia ser adiada ou renegada. Ninguém tinha poderes ou conhecimentos suficientes para conter a vontade divina, segundo as crenças de então.
Com as transformações tecnológicas, não são à toa as descobertas e medidas tomadas em prol do aumento da expectativa e diminuição da mortalidade por doenças graves. Quando a ciência se sobrepôs à religião, esta nova forma de enxergar nossa passagem pela Terra revolucionou a cultura. Quantos de nós ficamos sem admitir a estúpida morte de alguém por um vírus tão minúsculo e destrutivo?
Depois da pandemia, continuaremos indo atrás de encontrar maneiras de prolongar a vida.
Passamos da metade deste microbook com um trecho de uma entrevista de Yuval Noah Harari à CNN. Nela, o autor trata dos tempos extraordinários em que vivemos. Por mais que estejamos passando por uma turbulência amedrontadora, não podemos negar o caráter histórico e inesperado do presente.
Nenhum de nós havia testemunhado uma epidemia global nessas proporções. Afinal, não é exagero dizer que estamos diante da época mais assustadora e alarmante dos últimos cem anos. Algo parecido com uma pandemia nestas proporções só ocorreu durante a gripe espanhola.
E quando olhamos em perspectiva, notamos que os avanços foram inúmeros desde a epidemia de um século atrás. Cientistas foram capazes de sequenciar o genoma do novo coronavírus, identificando-o e dissecando todas suas características em poucas semanas. Em meses, foi possível avançar com muita velocidade para a busca de vacinas, capazes de imunizar multidões por todo o mundo.
Infelizmente, apesar dos avanços, não há apenas boas notícias. O maior problema enfrentado para superar a covid-19 é a desunião vista no enfrentamento à doença. A falta de cooperação e coordenação entre países diferentes e a ausência de confiança entre nações, população e governo só trouxe prejuízos sanitários.
Isso é resultado de uma prestação de contas do planeta com o que vimos nos últimos anos: a epidemia de notícias falsas e desinformação para as multidões, além da deterioração das relações internacionais. Avançamos muito nos últimos cem anos, mas ainda temos conquistas e lutas demais para superar se desejamos uma humanidade próspera.
No livro Homo Deus, Yuval Noah Harari colocava em dúvidas se a humanidade tinha sob controle a fome, as pragas e a guerra. Por mais que deixasse claro todo o conhecimento científico sobre boas formas de evitar tragédias, o autor não tinha tanta certeza de haver interesse real de superar desafios em momentos agudos da humanidade.
Hoje, Harari deixa clara a inexistência de possibilidades de impedir o aparecimento de novas doenças infecciosas. Isso porque os patógenos saltam o tempo todo de animais para seres humanos, sofrem mutações constantes, ficam mais fortes, contagiosos e mortais dia após dia. Sorte a nossa vivermos em uma época tão simples de catalogá-los, compreendê-los e desenvolver maneiras práticas de combatê-los.
Com a tecnologia e o conhecimento científico de que dispomos, é possível, sim, controlar essas pragas, impedindo a morte de milhões de pessoas e a destruição por completo da economia.
Se você ainda tem dúvida, basta comparar a situação atual com a de décadas atrás. Em pandemias brutais com a da peste negra, os seres humanos não tinham a menor ideia do que causava as mortes em ritmo incontrolável e desconheciam boas maneiras de parar a disseminação em velocidade absurda. Quantas vidas não foram perdidas assim, por falta de conhecimento científico?
Em compensação, hoje é possível vencer a luta contra patógenos. Vírus são invisíveis e não possuem a sofisticação para se comunicar como a linguagem dos humanos. Já os médicos podem compartilhar informações por todo o mundo, especialistas podem estudar em laboratórios altamente equipados e a tecnologia avançada leva novas respostas para entendermos com calma o cenário atual.
Ainda assim, precisamos ficar em constante alerta. Certamente, o novo coronavírus não será a última pandemia do século.
Nem tudo é só notícia ruim. A humanidade sobreviveu a inúmeras crises sanitárias, como a epidemia da AIDS, a gripe espanhola e a peste negra. Se pensarmos em termos exclusivamente médicos, a covid-19 é bem menos perigosa do que muitas doenças já enfrentadas ao longo dos séculos.
Basta lembrar que no começo da década de 1980, quem contraía o vírus HIV estava sentenciado à morte, enquanto, atualmente, as chances de cura existem em proporção infinitamente maior. A não ser que haja mutações perigosas, é pouco provável que o novo coronavírus mate mais do que 1% da população de qualquer país, enquanto a peste negra chegou a dizimar 10% da Europa.
Investir em conhecimento científico e ferramentas tecnológicas é a melhor maneira de vencer essa e outras pragas. Não somos desamparados como nos tempos da peste negra, mesmo que a desinformação corra em velocidade recorde por todos os cantos do mundo.
A crise da covid-19 é a oportunidade única que a humanidade tem de priorizar a ciência, investir em pesquisa e promover mais qualidade de vida para as próximas gerações. Que não percamos essa oportunidade.
A pandemia do novo coronavírus é o evento que encerra, de fato, o século XX. E ela já causou transformações irreversíveis, tanto comportamentais quanto na forma de interpretar o mundo. Daqui para frente, o uso de máscaras será muito mais comum do que em toda a nossa vida pregressa, por exemplo. Por outro lado, fica mais clara a necessidade de cooperação global para a superação de problemas envolvendo todo o mundo. A pandemia ainda não acabou, mas o mundo não é mais aquele que conhecíamos.
Quer aprender um pouco mais com Yuval Noah Harari? No microbook 21 lições para o século XXI, ele nos traz boas lições sobre como encarar os próximos anos, entre revoluções tecnológicas e crise climática. Vale a pena conferir.
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Yuval Noah Harari é um professor de História israelense e autor do best-seller internacional Sapiens: Uma breve história da humanidade. Harari ganhou duas vezes o Prêmio Polonsky por Criatividade e Originalidade, em 2009 e 2012. Em 2011 ele ganhou o prêmio Moncado de História militar para a sociedade pelos artigos de destaque na História militar. Em 2012 ele foi eleito para academia Jovem... (Leia mais)
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